A fascinante história do investidor mais jovem do Brasil
Qual é o melhor presente que você pode dar a uma criança? Um videogame de última geração? Uma bicicleta? Uma viagem para a Disney?
Sem dúvidas, qualquer um desses faria o pequeno muito feliz, mas e se o objetivo não fosse apenas agradar o menino ou a menina, mas também ajudá-lo a construir o próprio futuro?
Com a segunda ideia em mente, Gerson Mattiuzzo Jr, empresário de 35 anos e pai do Luis (12 anos), decidiu percorrer um caminho diferente do que a maioria dos pais percorrem no que diz respeito à educação financeira de seus pequenos.
Quando o Luis tinha oito anos, Gerson começou a comprar ações no nome do filho, com o objetivo de usar o poder dos juros compostos a favor de quem tem a vida toda pela frente.
Gerson conta que a ideia surgiu da sua própria experiência com os juros compostos. “Eu estudei muito e percebi que o enriquecimento acontece através deles, mas que para isso é preciso de tempo – o que as crianças têm de sobra.
Fiquei pensando que se meu pai tivesse investido dessa forma por mim, eu estaria milionário hoje. Então resolvi fazer isso pelo meu filho. Com algo em torno de R$ 500 a R$ 1.000 por mês, por 20 ou 25 anos, é possível acumular um grande patrimônio sem grandes esforços”, explica.
Uma pequena pausa antes de contar como essa história muito inspiradora se desenrola: Se você não sabe bem como funcionam os juros compostos, que foram batizados por Albert Einstein como a oitava maravilha do mundo, recomendo que leia este artigo.
No início, o pequeno Luis não dava muita bola para o projeto do pai. Não gostava de investimentos e nem entendia muito sobre o assunto, mas aos poucos foi adquirindo conhecimento e passou a se interessar mais pelo mercado e por montar a sua carteira de ações.
“Quando começamos, eu explicava para ele como o que tinha que ser feito, explicava que ele era acionista de tais empresas e o que isso significava. Até que em um dia que era feriado em nossa cidade, levei ele para conhecer a sede da BM&FBovespa, em São Paulo. Visitamos o museu da bolsa, o salão onde aconteciam os pregões e também entramos em contato com o Edemir Pinto, presidente da empresa, que nos recebeu muito bem e nos convidou para um almoço”, conta Gerson.
Foi a partir desse dia que Luis começou a se interessar de verdade por todo o universo dos investimentos. “No dia em que fui conhecer a bolsa foi que eu comecei a gostar de verdade de investir.
Depois disso, li o Pai Rico, Pai pobre. Depois, li Meu primeiro milhão, que conta a história de como algumas pessoas chegaram ao primeiro milhão. Esse é meu primeiro objetivo, aliás”, revela o pequeno. Pelos cálculos da dupla, Luis chegará lá aos 40 anos. Nada mau, não é mesmo?
Independente das cifras que serão alcançadas, porém, Gerson lembra que “com base em uma rentabilidade média de 1% ao mês e investindo um pouquinho mensalmente, com certeza ele terá um patrimônio muito interessante e não precisará depender de previdência social ou privada para ter um futuro bacana”, pondera.
Uma carreira curta, mas com muitas histórias incríveis
Depois de algum tempo, o pequeno Luis se tornou sócio da BM&FBovespa e pai e filho participaram de uma assembleia da empresa.
Imagine a cena: Um investidor no auge de seus quase dez anos de idade chegando para uma assembleia de demonstração de resultados todo engravatado. Não é todo dia que vemos algo assim, certo?
“Estávamos sentados esperando o evento começar e um senhor veio conversar com a gente e fez um monte de perguntas sobre investimentos ao Luis. Depois descobrimos que era o Pedro Pullen Parente, que hoje é presidente da Petrobras”, revela Gerson.
A relação com a família
Tudo o que envolve dinheiro e investimentos no Brasil é sempre cercado de muitos mitos, medos e tabus. Definitivamente, não somos uma nação de investidores. Por isso, tudo o que foge à receita clássica da caderneta de poupança é visto com olhares desconfiados por aqueles que não compreendem o mercado de ações.
“Toda vez que converso com alguém sobre bolsa de valores escuto que é arriscado. As pessoas falam que não têm dinheiro e logo mudam de assunto. Os leigos acham que investir na bolsa e perigoso e a primeira coisa que pensam é que vão perder dinheiro. Isso porque o medo de perder é maior que a vontade de ganhar, o que causa um bloqueio e desmotiva as pessoas. Infelizmente, a maioria pensa assim. É bem difícil convencer as pessoas que o mercado de ações é uma excelente forma de construir um patrimônio e ter um futuro melhor. O máximo que encontro entre amigos e familiares são pessoas que têm algo na poupança ou em um fundo do banco. Muita gente que conheço tem título de capitalização e acha que está investindo”, lamenta o pai do investidor mais jovem da bolsa de valores do Brasil.
Um encontro com o maior investidor brasileiro
Ao longo de sua curta, porém intensa carreira como investidor, Luis teve oportunidades que muitos “macacos velhos” sonham em ter. Talvez o melhor exemplo disso venha do encontro que teve com Luiz Barsi Filho, uma lenda viva do mercado de ações brasileiro.
O maior investidor de nosso país recebeu pai e filho para uma conversa de uma hora, em que contou um pouco de sua história e deu conselhos ao pequeno investidor. “O que mais me chamou a atenção foi sua humildade e simplicidade”, lembra o pai, orgulhoso.
Gerson disse que Barsi, considerado por muitos como o Warren Buffett brasileiro, é questionado com frequência a respeito do mercado. Segundo ele, as pessoas perguntam ao reservado guru brasileiro se investir em ações é muito arriscado, se precisa de muito dinheiro, se precisa ficar de olho no mercado o tempo todo.
Gerson nunca esqueceu a resposta que ouviu. “Ele falou que não é nada disso. Basicamente, disse que devemos comprar ações de grandes empresas, que sejam lucrativas e boas pagadoras de dividendos. Também falou que a pior coisa que existe é entrar na bolsa achando que o certo é comprar na baixa e vender na alta. A pessoa tem que se atentar para outros dados. Por exemplo: a empresa não tem lucro há dez anos, a ação cai 50% e o camarada quer comprar imaginando que ela vai voltar ao preço original. Tem grandes chances de não dar certo”, pontua. Afinal, qual é a lógica que explica que só porque uma ação caiu muito ela vai subir no futuro?
A metodologia de investimento do pequeno grande investidor
Uma simples planilha atualizada trimestralmente (a cada divulgação de resultados) é a base da estratégia da dupla, muito bem explicada por Luis.
“Registramos nela dois tipos de ações: as que já temos e as que cogitamos investir. A cada trimestre eu atualizo a planilha e tomamos as decisões. O primeiro critério para a empresa entrar em nosso filtro é o lucro líquido. Se ela tem um lucro consistente, pode seguir. Se não tiver, é descartada. O segundo critério é o caixa, e depois vem o tamanho da dívida. Aí vem o P/L (o P/L significa o preço dividido pelo lucro. Quanto menor o PL, melhor a ação) e o PVPA (preço dividido pelo valor patrimonial da ação. Ou seja, se uma ação custa R$ 1,00 e o P/L é 0,5, você está pagando 25 centavos por algo que vale um real. Com relação ao P/L, tudo que está abaixo de 15 a gente considera que é uma boa oportunidade para investir, com algumas exceções”, explica o consciente garoto.
Quando perguntados a respeito da hora de vender, os dois responderam em sintonia: “A gente não vende. Só compra”. Isso porque o objetivo é acumular patrimônio para o futuro. “Se a gente vai comprando e vende lá na frente, fica com zero ações e interrompe o processo de enriquecimento através dos juros compostos”, explica Gerson.
Investimentos à parte, uma criança normal
Ao ler uma história incomum como a de Luis é fácil pensar sobre o quão certo ou errado o pai está em incentivá-lo a fazer algo completamente disruptivo para uma criança. Durante minha conversa com os dois, Gerson falou que é constantemente questionado sobre a “vida real” do filho.
“As pessoas falam que isso não é coisa de criança, que ele deveria estar vivendo sua infância”, destaca. Porém, a verdade é que Luis não fica o dia inteiro acompanhando o mercado, estudando estratégias e analisando gráficos. Ele adora futebol, torce para o Palmeiras e é louco por videogames. “Como pai, acho importante falar que com toda certeza ele é uma criança normal. Faz tudo o que as outras gostam. Quando falo que ele sabe ler balanços patrimoniais, me questionam que isso é coisa de adulto, que ele não deveria fazer isso, que eu estou confundindo as coisas. Mas, na verdade, os balanços são divulgados a cada trimestre. É apenas nesse momento que fazemos a análise e tomamos as decisões”, explica.
A relação com o dinheiro
Para extrair o melhor da força dos juros compostos, mensalmente o Gerson dá uma mesada para o filho investir. O valor varia entre R$ 500 e R$ 1000 ou zero de acordo com os dividendos que entram. “Já me disseram também que são valores muito altos para uma criança, mas é importante frisar que ele não tem acesso direto ao dinheiro. É uma quantia 100% destinada aos investimentos. A reflexão que deixo para os pais é: Quanto custa uma mensalidade de uma boa universidade hoje? O que estou fazendo para ele hoje é pensando no futuro, para que ele consiga estudar sem passar por dificuldades. Muita gente começa a estudar, acaba perdendo o emprego e, se não tem apoio dos pais, é obrigado a trancar o curso. Com esse investimento que fazemos hoje ele vai conseguir custear os estudos usando os rendimentos dos investimentos que estão sendo feitos ao longo desses anos. Todo mês, seja com a mesada ou com o dinheiro dos dividendos, ele compra uma ação. Esses valores pequenos, quando vão se acumulando, viram uma bola de neve. É um patrimônio pequeno, mas que está em constante crescimento”, conta o pai.
Recado para pais sobre o futuro dos filhos
Durante a conversa, Gerson pediu para que o filho desse um conselho aos pais que têm filhos pequenos. “Eu acho que é legal começar a ensinar (sobre investimentos) desde cedo, porque talvez quando eles cresçam não tenham esse interesse. E aí, talvez, podem não ter um futuro muito bom porque não aprenderam algo lá atrás. Ah, e também não pensem nunca a curto prazo ou acreditem que ficarão ricos da noite para o dia, pois não é assim que funciona”, completa o pequeno grande investidor.
Durante a conversa ficou evidente para mim que a filosofia de investimentos dessa dupla sensacional é 100% baseada no value investing e em tudo o que acredito e defendo. Não existe nada melhor do que encontrar pessoas reais que conseguem “traduzir” o que significa enxergar a bolsa de valores como uma ferramenta de construção de patrimônio no longo prazo. Foi por isso que quis compartilhar essa bela história aqui com você, nobre leitor.
Quando perguntei se eles utilizam a análise técnica para investir, os dois responderam em mais um episódio de perfeita sintonia: “Análise técnica só mostra o passado. A gente só pensa no presente e no futuro”, conta Gerson. “E nos balanços”, complementa Luis.
Por André Fogaça para o GuiaInvest